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Imprensa

TCU sedia debate sobre justiça, paz e direitos humanos

Seminário teve como objetivo discutir oportunidades e desafios para o cumprimento do objetivo de desenvolvimento sustentável nº 16 da Agenda 2030-ONU, que trata da construção de uma sociedade pacífica, justa e inclusiva
Por Secom TCU
28/06/2018

O Tribunal de Contas da União (TCU) sediou o seminário “Diálogos sobre paz, justiça e instituições eficazes: parcerias para o desenvolvimento sustentável”, promovido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), com o objetivo de discutir os desafios e as oportunidades do Brasil rumo ao alcance do objetivo número 16 da Agenda 2030, que trata da construção de uma sociedade pacífica, justa e inclusiva.

O seminário foi realizado no último dia 19, na sede do TCU em Brasília. A mesa de abertura foi composta pelo presidente do Tribunal, ministro Raimundo Carreiro, o representante-residente do Pnud no Brasil e coordenador-residente da ONU no Brasil, Niky Fabiancic, o secretário-executivo do ministério da Transparência e Controladoria-Geral da União (CGU), José Marcelo Castro de Carvalho, a secretária de Direitos Humanos do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), Ivana Farina, e o chefe de gabinete do ministro extraordinário da Segurança Pública, André Giamberardino.

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Créditos: ONU Brasil

Instituída em setembro de 2015 pelos 193 países membros das Nações Unidas, entre eles, o Brasil, a Agenda 2030 engloba 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e 169 metas que buscam um mundo mais igualitário, mais próspero, mais responsável quanto à gestão dos recursos naturais, mais colaborativo e livre da pobreza, em todas as suas dimensões.

Como o próprio nome indica, o ODS 16 – Paz, Justiça e Instituições Eficazes – é voltado para a superação dos desafios à garantia de paz, acesso à Justiça e promoção de governança e transparência em todas as sociedades. “Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis”, diz a meta da ONU.

Em discurso, Carreiro destacou a oportunidade “ímpar” para debater estratégias destinadas à “efetiva implementação” de um modelo de desenvolvimento sustentável para o Brasil. “Embora esse tema tenha tido bastante destaque nos últimos tempos, ainda é um assunto que carece de maior conscientização da sociedade em geral e, principalmente, de adoção de medidas ousadas e inovadoras, por parte dos órgãos públicos, a fim de alcançarmos a sustentabilidade e o equilibrado tão almejados”, observou.

De acordo com o representante da ONU, Niky Fabiancic, para que os ODS sejam implementados no País, é preciso incorporá-los à realidade brasileira, por isso o Pnud formulou uma pauta de acompanhamento para o período 2017-2021, com base nos cinco eixos que guiam a Agenda 2030: pessoas, planeta, prosperidade, paz e parcerias.

Para o presidente do TCU, além das três dimensões do desenvolvimento sustentável – a econômica, a social e a ambiental – é preciso acrescentar uma quarta: a institucional, “a base para a implementação das demais”. “É nesse ponto que as Entidades de Fiscalização Superiores (EFS) podem trazer grandes contribuições para a melhoria da governança e gestão das instituições e políticas públicas e, consequentemente, para o incremento da qualidade dos serviços públicos prestados aos cidadãos. As EFS são fundamentais para que os governos insiram seus compromissos internacionais de desenvolvimento nas agendas políticas e os persiga com transparência e responsabilidade”, defendeu.

Cooperação institucional

SECRETÁRIA IVANA FARINA

Secretária Ivana Farina

Na mesma direção do presidente Carreiro, a secretária de Direitos Humanos do CNMP defendeu a atuação integrada, ao mesmo tempo em que fez duras críticas à falta de articulação das instituições brasileiras para o cumprimento do ODS 16. “Um dos aspectos mais importantes a justificar essa crise pela qual passa o nosso País, é exatamente a não-integração dos sistemas do Estado Democrático de Direito. Quando o sistema parlamentar ou o de Justiça têm dificuldades em caminhar para metas comuns da democracia, evidentemente que estamos distanciados do que possa ser o melhor para atingir objetivos”, afirmou.

Ivana defende que, para alcançar os objetivos propostos pela Agenda 2030, é preciso pressupor que uma determinada situação “está posta” e, a partir disso, traçar caminhos que levem ao desenvolvimento sustentável. “A situação que está posta merece a reflexão de que o objetivo buscado não tem sido mesmo o do desenvolvimento humano, tendo em vista a violência que evolve toda a nossa sociedade, em números alardeados como o de nações em guerra: 70 mil mortes ao ano, significando cerca de 12% do total mundial. São números que evidentemente demonstram que esse objetivo, o de uma segurança pública que realmente promova a pacificação para uma caminhada de desenvolvimento da sociedade, não é uma situação vivenciada pelo nosso país no momento”, alertou.

Niky Fabiancic, representante da ONU Brasil
Niky Fabiancic, representante da ONU Brasil

Na avaliação de Fabiancic, da ONU, pelas temáticas com as quais trabalha, o ODS 16 demanda “um empenho especial” de trabalho intersetorial. “É preciso a união de esforços do Executivo, do Legislativo e do Judiciário, além da academia, do setor privado e da sociedade civil, para o avanço das pautas de justiça, segurança, governança e transparência”, declarou, ao acrescentar que o Atlas da Violência 2018 mostra que 553 mil pessoas perderam as vidas no Brasil devido à violência, no período que vai de 2006 a 2016. “É um dado assustador, ainda mais quando sabemos que a maior parte dessas pessoas é jovem e negra, pobre e do sexo masculino. Ou seja, a violência alcança, sobretudo, os mais vulneráveis”, destacou.

 

Segundo ele, anos atrás, o Pnud fez uma pesquisa com 500 mil brasileiros na tentativa de descobrir quais os elementos mais valorizados na promoção do desenvolvimento humano. Ao responder à pergunta “O que precisa mudar no Brasil apara a sua vida melhorar de verdade?”, os entrevistados elencaram três temas principais: segurança, educação e fortalecimento de uma cultura cidadã. “O debate em torno dessas questões continua muito atual”, afirmou.

Como avanços no alcance do ODS 16, Fabiancic citou a Lei de Acesso à Informação, a institucionalização das defensorias públicas nos Estados e a atuação do Ministério Público e demais órgãos de controle. “É preciso fortalecer as ações nesse setor, tanto nas esferas nacionais, quanto subnacionais”, afirmou.

Atuação do TCU

No que tange ao controle externo, o presidente do TCU ressaltou o comprometimento da Corte de Contas com a implementação e o monitoramento dos ODS tanto no Brasil quanto na América Latina, com a adoção de diversas iniciativas. Em relação especificamente ao ODS 16, foco do seminário, Carreiro citou a criação, em 2017, da Secretaria de Relações Institucionais de Controle no Combate à Fraude e Corrupção (Seccor), cuja finalidade é desenvolver, fomentar, monitorar, apoiar e coordenar ações de controle de combate à fraude e corrupção, por meio do fortalecimento da relação entre o Tribunal e os outros órgãos e entidades de controle e fiscalização. “A Seccor, alinhada ao ODS 17 (Parcerias e meios de implementação), busca promover parcerias entre os órgãos de controle e fiscalização no desenvolvimento dos trabalhos voltados para o combate à fraude e à corrupção”, disse.

Carreiro lembrou, ainda, que Tribunal liderou a auditoria coordenada com 11 países da América Latina para avaliar a preparação dos governos para a realização dos ODS. Durante o trabalho, foi desenvolvida uma metodologia para a análise de estruturas de governança com vistas à implementação da Agenda 2030 como um todo e à preparação de uma meta específica, a relativa a sistemas sustentáveis de produção de alimentos.

Além disso, o TCU e os tribunais de contas estaduais vão realizar, neste ano, uma auditoria coordenada para avaliar a gestão de áreas protegidas sob a perspectiva dos ODS. A fiscalização tem por objetivo verificar a implementação de algumas metas dos ODS 14 e 15, bem como as metas da Convenção sobre Diversidade Biológica. O ODS 14 consiste em “conservar e usar sustentavelmente os oceanos, os mares e os recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável”. Já o ODS 15 compreende “proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra, e deter a perda de biodiversidade”. No ano que vem, o trabalho envolverá outros países da América Latina e da África.

Governança, Transparência, accountability e participação

“Por que precisamos de governança?”, questionou Cláudio Sarian Altounian, representando o ministro do Tribunal de Contas da União Augusto Nardes, na abertura do primeiro painel da tarde. O painelista do Tribunal alertou para a queda de confiança das instituições brasileiras e apontou para a fragilidade dos mecanismos de governança (liderança, estratégia e controle). Ele citou o Acórdão do TCU nº 1.273, de 2015, que identificou que mais da metade dos órgãos públicos está em um estágio inicial de governança. Cláudio Altounian comentou que a falta de confiança do cidadão no governo é, em grande parte, resultado do baixo nível de governabilidade das instituições, que impede a entrega de bons serviços à sociedade. Para ele, o país tem empregado um foco muito grande no combate à corrupção, mas ainda não percebeu que os resultados da ineficiência, fruto da falta de governança, são ainda mais danosos para a sociedade. “O risco que nós estamos correndo é de darmos muito valor à transparência e esquecer que a sociedade espera resultado. Não adianta dar uma transparência maravilhosa e não entregar produto e valor”, concluiu Cláudio.

O painel contou ainda com as participações de Fernando Filgueiras, diretor de Pesquisa e Pós Graduação da Escola Nacional de Administração Pública (Enap) e Ana Luiza Aranha, da Transparência Internacional. Fernando Filgueiras alertou para os riscos de uma hiper-regulação no Brasil. “Nós somos uma sociedade regida pela desconfiança”. Nesse contexto, os gestores desenvolvem uma aversão ao risco, que impede a inovação; e um descompromisso com as atividades fim. Ana Luiza, comentou que o Brasil avançou nos últimos 15 anos em termos de legislação, mas ainda falta muito para que efetivamente se cumpra a lei, principalmente em nível local. Ela lembrou a importância do pacote de medidas de combate à corrupção, organizado pela Transparência Internacional, em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV). São 70 propostas legislativas e regulatórias construídas com a participação de 373 instituições e 192 especialistas.

Marcelo Barros Gomes, coordenador-geral de Controle Externo de Resultados de Políticas e Programas Públicos do TCU (Coger-Segecex), participou do último painel do seminário “Diálogos sobre Paz, Justiça e Instituições Eficazes: parcerias para o Desenvolvimento Sustentável”. Para ele, a ineficiência das instituições tem consequências drásticas na perpetuação das desigualdades no Brasil e no baixo desenvolvimento econômico e social do país. “As instituições são o que importa se nós quisermos alcançar um patamar mais civilizado no trato com a coisa pública e com a própria cidadania do Brasil”, comenta.

Os próximos passos da agenda ODS no Brasil, de acordo com Marcelo Gomes, passam por seis dimensões nas quais o Tribunal de Contas da União tem tentado contribuir: formação de uma agenda nacional integrada de longo prazo; necessidade de uma governança orçamentária; a importância do desenvolvimento regional e da inclusão socioeconômica do país; a governança multinível; a reforma fiscal e o pacto federativo.

O Tribunal tem participado, segundo Marcelo, de importantes debates para que a agenda ODS seja cumprida, entre eles, o debate sobre a reforma fiscal e o pacto federativo. “Os trabalhos desenvolvidos pelo TCU demonstram a forma como se implicou regiões inteiras do país numa indisciplina fiscal e uma dependência de benefícios, sem uma porta de saída, principalmente na região norte e nordeste. Sem essa discussão séria, vai ser muito difícil o cumprimento da agenda da ONU”, observa.

A Procuradora Federal dos Direitos do Cidadão, da Procuradoria-Geral da República, Deborah Duprat, que também participou do painel de encerramento do seminário, alertou que o Brasil não deve chegar “nem perto” de alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Segundo a procuradora, a emenda do teto de gastos do governo federal é o maior impeditivo. Ela alerta que a experiência vivida em outros países já mostrou que a política de austeridade gera desigualdade, compromete todos os esforços de enfrentamento da pobreza e da miséria e faz com que o ônus da crise recaia quase que exclusivamente sobre os grupos historicamente marginalizados. “Passados dois anos dessa emenda constitucional, nós já podemos identificar o forte impacto que ela teve no tripé que sustenta as políticas de igualdade: educação, saúde e assistência social”, comenta Deborah. Ela acrescenta que “Essa situação de profunda desigualdade histórica, agravada por essas reformas mais recentes, esgarça o tecido social. Ela compromete qualquer projeto coletivo de sociedade.”

Evento PNUD: Diálogos sobre Paz, Justiça e Instituições Eficazes: parcerias para o Desenvolvimento Sustentável

 

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