Internet das Coisas: de objetos a cidades inteligentes
As inovações que surgem no âmbito da Internet das Coisas têm potencial para oferecer uma infinidade de benefícios – técnicos, sociais, econômicos, ambientais.
Por Secom
Em 1964, Marshall McLuhan previu que “... por meio de mídia elétrica, será configurada uma dinâmica pela qual todas as tecnologias anteriores - incluindo cidades – serão traduzidas em sistemas de informação”. O visionário filósofo estava certo: pelas previsões do Gartner[1], pelo menos 21 bilhões de objetos estarão conectados à Internet até 2020. A Cisco[2] acredita que este número chegará aos 50 bilhões. E as smart cities, cidades[3] construídas com edifícios e infraestrutura inteligentes, já se espalham pelo mundo[4] - como PlanIT[5] em Portugal, Songdo[6] na Ásia e Masdar[7] nos Emirados Árabes.
A chamada Internet das Coisas é caracterizada pela incorporação de informações em objetos de uso comum, interconectados e unicamente identificáveis, que se apresentam em diferentes níveis de escala – de nanochips implantados no corpo a cidades inteligentes, incluindo de automóveis [8] que dispensam motoristas a dispositivos que captam informações por sensores e são capazes de se comunicar entre si (M2M – machine-to-machine), com as pessoas ou com o ambiente. Os limites entre concreto e digital tornam-se cada vez mais tênues.
As inovações que surgem no âmbito da Internet das Coisas têm potencial para oferecer uma infinidade de benefícios – técnicos, sociais, econômicos, ambientais. Percebem-se efeitos significativos nas áreas de urbanismo, saúde, comunicação, segurança, comodidade e sustentabilidade. As aplicações são tantas quantas forem possíveis de se imaginar ao associar informações e capacidade de processamento e de ação dinâmica a objetos.
O problema é que a velocidade com a qual a tecnologia se difunde é maior do que a possibilidade de previsão de seus impactos, sejam positivos ou negativos. E, dada a infinidade de aplicações e a abrangência da Internet das Coisas, os efeitos negativos são temerários, considerando que o processo de implantação tem sido conduzido, em grande medida, por empresas privadas, com interesses comerciais ou nem sempre coincidentes com os da sociedade. Portanto, o momento é oportuno para reflexão sobre as implicações socioculturais, econômicas e tecnológicas que afetam a dimensão prática desse novo contexto. Surgem questões de natureza e proporções variadas – como privacidade, segurança, usabilidade e atuação independente de objetos, para citar alguns – que afetam desde o domínio individual até o global.
Governos e indústria em todo o mundo estão realizando uma série de investimentos para implantar a infraestrutura da Internet das Coisas. Um dos pontos críticos é a necessidade de atribuir uma identificação única para cada objeto na rede, que só será viável com a nova geração do IP (Internet Protocol) – o IPV6, com 128 bits de espaço de endereçamento. A extensão IPV6 foi criada devido à limitação numérica da versão anterior, e possibilita a geração de cerca de 340 undecilhões de endereços de IP, o suficiente para identificar diversas vezes cada grão de areia do planeta. O desafio é migrar a infraestrutura atual da Internet, que utiliza IPV4, e criar um sistema de gerenciamento dinâmico e eficiente de identidades. Ocorre que o IPV6 ainda não está em ampla utilização. Segundo as estatísticas do Gooogle[9], mais de 90% dos dispositivos no mundo ainda utilizam IPV4[10], que já está se esgotando. A migração definitiva para IPV6 é cada vez mais urgente. Pesquisa e desenvolvimento em parcerias globais serão essenciais para elevar as discussões neste cenário.
Em relatório do Gartner de 2016[11], a Internet das Coisas foi apontada como uma das dez tendências estratégicas mundiais de tecnologia. O tema tem sido tratado como prioritário pelo setor público de diversos países, especialmente europeus e asiáticos, com programas de governo dedicados a identificar impactos e potenciais oportunidades trazidas pelas inovações. Nessa conjuntura, a preocupação com a governança da Internet, traduzida pela capacidade de definir modelos de funcionamento da rede, torna-se fundamental para garantir seu desenvolvimento sustentável e o atendimento pleno aos interesses da sociedade. Internet das Coisas terá ampla repercussão em muitos dos processos que caracterizam a vida cotidiana, portanto, é primordial que seu desenvolvimento seja fundamentado em estratégias orientadas a pessoas.
[1] http://www.informationweek.com/mobile/mobile-devices/gartner-21-billion-iot-devices-to-invade-by-2020/d/d-id/1323081
[2] http://www.cisco.com/c/en/us/solutions/internet-of-things/overview.html
[3] http://www.economist.com/news/briefing/21585003-building-city-future-costly-and-hard-starting-scratch
[4] https://www.nesta.org.uk/sites/default/files/rethinking_smart_cities_from_the_ground_up_2015.pdf
[5] http://www.living-planit.com/
[6] http://songdoibd.com/
[7] http://www.masdar.ae/
[8] http://oglobo.globo.com/economia/carros/google-lanca-carro-sem-motorista-sem-freios-sem-volante-12627067
[9] https://www.google.com/intl/pt-BR/ipv6/statistics.html#tab=ipv6-adoption&tab=ipv6-adoption
[10] https://www.google.com/intl/pt-BR/ipv6/
[11] http://www.gartner.com/newsroom/id/3143521