Maratona de linguagem simples debate como o poder público pode escrever de forma mais clara para os cidadãos
Durante o encontro, especialistas defenderam a adaptação da comunicação pública para torná-la mais democrática e acessível
Por Secom
A Maratona Linguagem Simples para a Cidadania, realizada em Brasília, nos dias 17 e 18 de outubro, reuniu especialistas do Brasil e do exterior para debater como tornar a comunicação pública mais acessível. O evento também marcou o lançamento do Manual de Linguagem Simples, produzido pela servidora da Câmara dos Deputados e consultora em linguagem simples, Patricia Roedel.
Durante o evento, realizado na Câmara dos Deputados e no Instituto Serzedello Corrêa (ISC), a autora do manual, Patricia Roedel, destacou a importância de facilitar o acesso dos cidadãos a informações públicas sem a necessidade de recorrer a fontes externas. "A ideia é evitar que o cidadão tenha que buscar a informação em outro lugar para entender o que o governo está comunicando", afirmou Patrícia.
Representando o Tribunal de Contas da União (TCU), a auditora Carolina Pfeilsticker apresentou as iniciativas da instituição para simplificar relatórios de auditoria com o uso do ChatTCU, a ferramenta de inteligência artificial (IA) generativa da instituição. O trabalho desenvolvido pela Diretoria de Inovação e Cultura do TCU teve como objetivo ensinar a ferramenta a reorganizar textos em "títulos e subtítulos" e a substituir "termos técnicos e jargões por palavras mais comuns".
O processo envolveu múltiplos ciclos de testes, em que diferentes estratégias foram aplicadas, evidenciando que o uso de frases curtas e na voz ativa contribuem para que o conteúdo fique mais claro. "A linguagem simples tem um grande potencial para melhorar a compreensão, mas é um processo contínuo de aprendizado e adaptação", comentou Carolina, ressaltando que a inteligência artificial pode ser um aliado, mas "nunca substituirá o papel do auditor".
Sobre o encontro
No primeiro dia, especialistas como Cláudia Mont'Alvão, Heloísa Fischer, Isabel Ferreira Lima, Joseane Corrêa e Liana Paraguassu discutiram os desafios e as melhores práticas para adotar a linguagem simples no Brasil. A jornalista e educadora Heloísa Fischer ressaltou que, enquanto países como a Suécia trabalham com linguagem simples há 50 anos, o Brasil tem apenas uma década de avanços significativos. "Estamos começando a superar a mentalidade de 'falar difícil', mas ainda há muito a avançar", observou Heloísa, destacando o protagonismo do Judiciário brasileiro. A jornalista falou também sobre a criação de uma norma brasileira de linguagem simples.
O encontro também abordou normas (ISO e ABNT). O presidente da Associação Internacional de Linguagem Simples (Plain Language Association International), Lodewijk Van Noort, discutiu a ISO 24495-1. A norma tem como objetivo ajudar organizações a implementarem práticas de linguagem simples, especialmente em documentos que têm impacto direto na vida das pessoas. Já a jornalista Heloísa Fischer falou sobre a criação de uma norma brasileira de linguagem simples.
No segundo e último dia, a maratona começou com uma aula teórica sobre linguagem simples pela manhã, seguida de oficinas práticas à tarde. As atividades ofereceram aos participantes uma imersão nos conceitos e técnicas discutidos, proporcionando experiência aprofundada e abrangente.
Acesse a transmissão do primeiro dia do evento:
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Maratona de Linguagem Simples para a Cidadania (Parte 1) - 17/10/24
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Maratona de Linguagem Simples para a Cidadania (Parte 2) - 17/10/2024
O que disseram os especialistas em linguagem simples
"A parte mais fácil é aprender as diretrizes da linguagem simples, mas o difícil é a transformação cultural necessária para que essa prática seja adotada de verdade. No Brasil, ainda lidamos com a ideia de que 'falar bonito' é falar de forma complicada, e isso precisa mudar."
Servidora da Câmara dos Deputados e consultora em linguagem simples, Patricia Roedel.
"Para avançarmos com a linguagem simples no Brasil, precisamos enxergar essa prática como uma mudança cultural que vai além das diretrizes. A transformação começa ao repensarmos a forma como nos comunicamos e nos conectamos com o público, tornando o acesso à informação um direito garantido."
Jornalista e educadora, Heloísa Fischer.
"A linguagem simples é uma ferramenta de democratização da informação. Ela permite que mais pessoas compreendam os serviços e direitos disponíveis, ajudando a reduzir desigualdades. O trabalho de simplificação deve ser contínuo e adaptável, sempre buscando formas de tornar a comunicação mais inclusiva”.
Coordenadora do Programa de Linguagem Simples e Inovação Jurídica do Tribunal de Contas de Santa Catarina (TCE/SC), Joseane Corrêa.
"A linguagem simples não é apenas uma questão de clareza, mas de justiça. É garantir que todas as pessoas, independentemente de seu nível de escolaridade, tenham o mesmo acesso à informação pública e possam exercer plenamente seus direitos."
Designer, pesquisadora e membro da Associação Internacional de Linguagem Simples Cláudia Mont’Alvão.
"A linguagem simples deve ser adaptada à realidade brasileira, que é diversa e complexa. O que funciona em outros países pode não ser adequado para o Brasil. Por isso, precisamos criar diretrizes que considerem nossas especificidades e incluir as pessoas no processo de criação, para garantir que a informação seja realmente acessível.”
Pesquisadora e consultora de linguagem simples e comunicação acessível em saúde na Fiocruz, Liana Paraguaçu.
"A linguagem simples não significa simplificar o conteúdo de forma superficial, mas sim reorganizar e clarear a mensagem para que ela seja compreendida por todos, independentemente do seu nível de conhecimento. É uma forma de inclusão e cidadania.”
cofundadora do programa linguagem simples Ceará e da rede linguagem simples Brasil, Isabel Ferreira Lima.
"A linguagem simples tem o poder de transformar a comunicação científica e legal, facilitando o entendimento para o público em geral. Precisamos seguir o exemplo de países que adotaram normas como a ISO 24495-1 para padronizar essa prática e garantir mais transparência.”
Presidente da Associação Internacional de Linguagem Simples, Lodewijk Van Noort.
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