Palestra sobre Tarsila do Amaral ressalta alcance global das telas da artista
Em evento realizado no último dia 30, no Centro Cultural TCU, a historiadora de arte Cecilia Braschi apresentou conferência destacando o papel da pintora como intérprete da identidade nacional
Por Secom
"Celebrar Tarsila é celebrar o poder transformador da cultura. Cultura que ilumina, questiona, aproxima e educa". Foi assim que a diretora-geral do Centro Cultural TCU, Ana Cristina Novaes, abriu o evento realizado no último sábado (30/8), que reuniu mais de 150 pessoas em Brasília (DF).
O evento contou ainda com a apresentação do grupo brasiliense Samba Urgente, que animou o público com uma roda de samba, e com a oficina de pintura modernista "Entre o Real e o Imaginado", que foi um sucesso entre crianças e adultos, permitindo que cada participante levasse para casa a tela produzida durante a atividade.
A historiadora de arte e curadora ítalo-francesa Cecilia Braschi apresentou a conferência "Tarsila do Amaral. Pintar o Brasil Moderno", compartilhando os bastidores da retrospectiva que organizou recentemente no Musée du Luxembourg (Paris) e no Guggenheim (Bilbao), a primeira grande exposição da artista na Europa desde 2009.
Figura central do modernismo brasileiro, Tarsila do Amaral (1886-1973) foi destacada pela curadora Cecilia Braschi como intérprete singular da identidade nacional. A palestrante ressaltou a relevância de situar a obra da artista no cenário global e contou como buscou sensibilizar o público europeu para olhar além de Paris.
"Quis mostrar aos franceses, acostumados a ter sempre os melhores artistas do mundo em suas galerias, que também fora de Paris existem trajetórias extraordinárias, como a de Tarsila do Amaral. Ela nos ensina que o Brasil não apenas dialoga com as vanguardas internacionais, mas produz arte original e transformadora".
Ao explicar os objetivos da retrospectiva, Cecilia Braschi destacou o impacto da mostra no debate sobre a história da arte mundial: "A retrospectiva não foi apenas uma homenagem. Foi uma oportunidade de repensar o lugar de Tarsila na historiografia da arte mundial, mostrando como sua obra dialoga com questões universais de identidade, modernidade e diversidade cultural".
Ao longo de sua apresentação, Cecilia também destacou os momentos de dificuldade vividos por Tarsila após a crise de 1929, quando a quebra da Bolsa de Nova Iorque provocou a maior recessão econômica do século XX. O impacto chegou ao Brasil atingindo fortemente o mercado de café, principal fonte de renda da elite paulista, da qual Tarsila fazia parte. A artista, que até então vivia entre Paris e São Paulo, viu sua situação financeira se fragilizar nesse período.
Somado a isso, veio a separação do marido, o conhecido escritor e jornalista brasileiro Oswaldo de Andrade, também parceiro no movimento antropofágico. A ruptura pessoal e a instabilidade econômica mergulharam Tarsila em um período de silêncio artístico, marcado por dificuldades materiais e emocionais. Durante cerca de 20 anos, ela quase não pintou, enfrentando ainda episódios como sua prisão em 1932, durante a Revolução Constitucionalista em São Paulo.
Segundo a curadora, esse silêncio artístico também ajuda a compreender a dimensão da obra de Tarsila:
"Tarsila atravessou fases muito duras em sua vida, sobretudo depois da crise econômica mundial de 1929 e da separação de seu marido, Oswaldo de Andrade. Ficou cerca de 20 anos sem pintar com regularidade, o que para uma artista de sua força foi um vazio imenso. Mas esse retorno posterior à pintura mostra a resiliência de quem tinha consciência de seu papel e de sua originalidade".
Por fim, a curadora também chamou a atenção para a atualidade da artista e a potência de sua obra: "As cores, as formas e a ousadia de Tarsila continuam atuais porque falam de nós, de nossas contradições e da potência criativa do Brasil. Ela nos mostra que a modernidade pode ser construída também a partir da periferia, com voz própria e original".
Hoje, Tarsila do Amaral é reconhecida mundialmente, com obras em museus e coleções de prestígio, recordes em leilões internacionais e retrospectivas em grandes centros de arte. Mais de meio século após sua morte, seu nome ocupa definitivamente o lugar que lhe cabe: o de uma das artistas brasileiras mais conhecidas e respeitadas do mundo, símbolo da força e da originalidade da cultura nacional.
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