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TCU analisa impasse sobre definição do hidrograma de Belo Monte

Usina pode reduzir vazão do Rio Xingu na estiagem ou para garantir suprimento energético, mas isso traz impactos. TCU recomenda que Ibama e setor elétrico dialoguem para alcançar equilíbrio entre preservação e geração de energia a bom preço

Por Secom

Resumo

TCU acompanha ações relacionadas ao hidrograma da Usina Hidrelétrica (UHE) Belo Monte.

A redução da água disponível para geração aumentou a necessidade de uso de usinas termelétricas e elevou os custos de operação.

Apenas em janeiro de 2021, o impacto financeiro foi de R$ 771 milhões.

Caso o hidrograma provisório seja mantido, o aumento médio nas contas de luz pode chegar a 1,7%.

Na sessão plenária da última quarta-feira (20/8), o Tribunal de Contas da União (TCU) acompanhou as ações relacionadas ao hidrograma da Usina Hidrelétrica (UHE) Belo Monte, no Pará, e seus efeitos no setor elétrico brasileiro. O objetivo da fiscalização foi avaliar os potenciais impactos na segurança energética e nas tarifas de energia elétrica em virtude das reduções na vazão de operação autorizadas pelo Ibama.

O hidrograma é uma representação gráfica que mostra como o volume de água em um local específico aumenta, atinge pico após chuvas e depois diminui até o fim do escoamento. É essencial para análises em hidrologia, engenharia ambiental e outras áreas. No caso analisado, o hidrograma de Belo Monte define a quantidade mínima de água que deve ser liberada no Trecho de Vazão Reduzida da Volta Grande do Xingu. A questão posta em discussão é como equilibrar a geração de energia elétrica com a preservação ambiental e a manutenção das atividades tradicionais de comunidades ribeirinhas e indígenas.

A usina de Belo Monte é considerada estruturante para o Sistema Interligado Nacional (SIN), com capacidade instalada de 11.233 MW e potencial para atender até 10% da demanda nacional. Quando a usina recebeu licença prévia, em 2010, foi estabelecido o chamado "Hidrograma de Consenso", com duas alternativas: Hidrograma A, que favorecia a geração de energia, mas oferecia menos proteção ambiental, e Hidrograma B, que garantia maior volume de água ao rio e, consequentemente, mais preservação ambiental. A alternância entre os dois modelos deveria ocorrer após a plena operação da usina, em 2019.

No entanto, em dezembro de 2019, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) concluiu que a opção de menor vazão seria inviável e que até mesmo o Hidrograma B não tinha comprovação suficiente de que evitaria danos ambientais. Estudos indicaram redução de espécies de peixes, prejuízos à pesca artesanal e alterações na qualidade ambiental da região. Assim, o órgão decidiu suspender a alternância e aplicar um hidrograma provisório, com vazões mais altas.

A indefinição do hidrograma teve repercussões no setor elétrico e gerou impactos operacionais e financeiros significativos. A redução da água disponível para geração em Belo Monte aumentou a necessidade de uso de usinas termelétricas e elevou os custos de operação. Estimativas indicam que, apenas em janeiro de 2021, o impacto financeiro foi de R$ 771 milhões. Se o hidrograma provisório for mantido, o aumento médio nas contas de luz pode chegar a 1,7%.

Durante a sessão plenária, o ministro-relator do processo, Benjamin Zymler, resumiu os efeitos da questão. "A demora na definição do hidrograma definitivo tem gerado preocupações tanto para as comunidades locais quanto para o setor elétrico. Para as populações ribeirinhas e indígenas, dificulta a implementação de medidas compensatórias e de mitigação dos impactos socioambientais. Para o setor elétrico, compromete o planejamento energético, podendo gerar instabilidade regulatória e financeira. O efeito se espalha em toda a economia e em demais políticas públicas, com aumento das contas de energia", disse.

Recomendações do TCU

O Tribunal observou que a indefinição prolongada traz dificuldades tanto para o meio ambiente quanto para o setor elétrico. Para as comunidades locais, isso atrasa medidas de mitigação e compensação. Para o sistema de energia, gera incertezas de planejamento e riscos regulatórios.

Diante do cenário, o TCU recomendou que o Ibama intensifique o diálogo técnico com o Ministério de Minas e Energia, a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). A ideia é que os impactos das possíveis alterações propostas no hidrograma também sejam avaliados antes da tomada de decisão final a respeito do licenciamento ambiental do empreendimento.

O Tribunal também determinou o envio das informações às comissões temáticas do Congresso Nacional e sugeriu que a Casa Civil da Presidência da República promova articulação entre os órgãos envolvidos.

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