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"O fato de ainda existir este debate já revela o quanto precisamos avançar", diz Marina Machado

Afirmação da jornalista Marina Machado foi feita no evento "O TCU que queremos. Por todas. Por todos", realizado na terça-feira (18/3) em comemoração ao Dia Internacional da Mulher

Por Secom

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O Tribunal de Contas da União (TCU) realizou, na última terça-feira (18/3), o evento “O TCU que queremos. Por todas. Por todos.”,em comemoração ao Dia Internacional da Mulher. O encontro contou com programação dedicada à reflexão sobre a participação feminina no setor público e os desafios da inclusão e equidade de gênero. O destaque da programação foi talk show mediado pela jornalista Marina Machado e pelo apresentador Francisco Bosco.

Confira o vídeo apresentado na abertura do encontro:

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O vice-presidente do TCU, ministro Jorge Oliveira, abriu o evento abordando os desafios enfrentados pelas mulheres na sociedade, incluindo desigualdade de oportunidades, discriminação e baixa representatividade em cargos de liderança. Citou dados do IBGE e de organismos internacionais que mostram a disparidade no mercado de trabalho e na política, e apontou que o Brasil ocupa uma das últimas posições em representatividade feminina nos parlamentos da América Latina.

“Nos Tribunais de Contas do país, apenas 26 de 226 cargos de conselheiros ou ministros são ocupados por mulheres. No Judiciário, a participação feminina raramente ultrapassa 33%. Em toda a história do TCU, apenas duas mulheres foram ministras. Como órgão de controle, temos o dever de contribuir para a equidade de gênero. Internamente, o TCU tem implementado políticas para criar oportunidades iguais para todos. Nas últimas gestões, avançamos significativamente e seguimos comprometidos com essa caminhada”, pontuou o ministro.

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A procuradora-geral do Ministério Público junto ao TCU (MPTCU), Cristina Machado, relatou como a desigualdade se manifestou ao longo de sua vida e carreira, e tornou sua trajetória mais desafiadora. Na ocasião, ela propôs uma reflexão para as mulheres presentes, incentivando-as a lembrar o momento em que perceberam a desigualdade e destacando a urgência da mudança para que as novas gerações enfrentem menos barreiras.

“Posso dizer exatamente quando senti, pela primeira vez, o peso da desigualdade de gênero. Não foi uma compreensão racional, mas uma sensação de que algo estava errado. Entre 9 e 10 anos, morando em uma vila com meus irmãos, lembro-me do momento em que minha mãe me chamou no meio de uma brincadeira, de maneira inconfundível, e disse: ‘Venha aprender a fazer arroz’. Aquela frase marcou algo novo para mim. Os meninos seguiram lá e essa desigualdade era tão evidente que até uma criança poderia percebê-la”, lembrou.

Talk show

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Na segunda etapa do evento, a jornalista e apresentadora do podcast F. My Brain, Marina Machado, e o filósofo e apresentador do programa Papo de Segunda, exibido no canal GNT, Francisco Bosco, conduziram o talk show. Também participaram da conversa a titular da Secretaria-Geral da Presidência (Segepres), Claudia Jordão, a secretária-geral de Controle Externo (Segecex), Juliana Pontes, o secretário de Orçamento, Finanças, Contabilidade e Serviços Administrativos Transversais (SecFinanças), Egbert Buarque, o diretor de Pagamento de Pessoal (Dipag), Clemens Santos, e a auditora Rúbia Trevizani, que atua na Assessoria do Gabinete do ministro Bruno Dantas.

A jornalista Marina Machado, mediadora da conversa, iniciou o talk show apontando que, apesar da igualdade entre homens e mulheres, existem construções sociais que reforçam diferenças relacionadas à capacidade cognitiva. “A única diferença que temos é o órgão genital e algumas questões hormonais. No entanto, por uma construção secular, que ainda hoje nos afeta, seguimos perpetuando a ideia de que há diferenças fundamentais entre homens e mulheres. Enquanto isso não for interiorizado de forma consciente, continuaremos vendo desigualdade salarial, diferenças no acesso a direitos e oportunidades, e continuaremos discutindo a necessidade de um debate que, só pelo fato de ainda existir, já revela o quanto precisamos avançar”, exemplificou.

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O apresentador Francisco Bosco aproveitou a oportunidade para destacar dois pontos do discurso de Cristina Machado: a importância da pergunta sobre quando as mulheres percebem a desigualdade de gênero, sugerindo que essa reflexão também deve ser feita pelos homens, e o chamado à responsabilização masculina nesse debate. “Quando Cristina falou sobre isso, me perguntei: ‘Em que momento eu mesmo tomei consciência da desigualdade de gênero?’. Essa reflexão é essencial, e é fundamental fazermos uma distinção clara entre culpa e responsabilidade entre os homens. Como intelectual, posso facilmente cair na armadilha de acreditar que, por estudar o tema em nível teórico e abstrato, já cumpro minha parte. Mas não basta compreender, é preciso agir”, refletiu.

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A dirigente da Segepres, Cláudia Jordão, trouxe para a mesa de discussão um contexto histórico de como a desigualdade de gênero foi construída ao longo dos séculos e ainda persiste na sociedade atual. Ela destacou a necessidade de reconhecer esses padrões, superar a visão de que as demandas femininas são "frescura" e promover mudança coletiva para alcançar a equidade de direitos e oportunidades entre homens e mulheres. “Segundo o Fórum Econômico Mundial, se mantivermos o ritmo atual, levará cerca de 135 anos para alcançar a equidade no trabalho. Para contextualizar: há quatro séculos, mulheres eram queimadas em fogueiras, e ainda precisaremos de mais um século e meio para equilibrar direitos e oportunidades. A mudança precisa ser construída coletivamente, com homens e mulheres caminhando juntos”, ressaltou.

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A titular da Segecex, Juliana Pontes, compartilhou sua trajetória profissional ao longo dos anos e enfatizou que, embora tenha encontrado homens que a apoiaram, também enfrentou desafios que exigiam dela perfeição constante, enquanto erros de homens costumavam ser mais tolerados. “Durante muitos anos não me permiti sentir o impacto dessas situações. Cresci em um ambiente onde a força era essencial. Para mim, ser forte não era uma opção, mas um pré-requisito feminino. Hoje, compreendo que essa necessidade de ser sempre forte, perfeita e impecável é uma pressão desproporcional sobre as mulheres. Quando uma líder comete um erro, ela não é apenas julgada, mas automaticamente condenada”, lembrou.

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O secretário da SecFinanças, Egbert Buarque, falou sobre comportamentos machistas de forma involuntária. Ele mencionou que, apesar de ter um senso moral bem-desenvolvido, foi influenciado pela cultura em que cresceu e precisou se desconstruir ao longo do tempo. “Lembro de um episódio em que estava em casa com minha esposa assistindo a um programa que mostra pessoas buscando seus sonhos. O programa contava a história de uma brasileira que fazia mergulhos guiados com tartarugas em uma ilha da Oceania. Durante a entrevista, ela mencionou que havia deixado o marido e a filha para seguir esse caminho. Na hora, minha esposa comentou: ‘que absurdo’. Aquilo me fez refletir. Respondi: ‘Os homens fazem isso todos os dias, mas ninguém chama atenção. Quando uma mulher faz, vira manchete’, contou.

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A auditora Rúbia Trevizani comparou a luta por equidade de gênero com a inclusão de pessoas com deficiência no serviço público. Segundo a servidoraembora existam políticas afirmativas e avanços estruturais, ainda há barreiras culturais e comportamentais a serem superadas. “No serviço público, temos uma reserva legal de vagas para pessoas com deficiência, garantindo acesso a esses ambientes e oportunidades de desenvolvimento. Ainda assim, a inclusão não ocorre naturalmente, exigindo políticas afirmativas e investimentos em estrutura. No entanto, além das políticas e da estrutura, existe um terceiro nível de mudança necessário: o comportamento. E essa transformação cultural leva tempo. O mesmo acontece com a equidade de gênero. O TCU já tem uma política de equidade e vem promovendo campanhas para fortalecer um ambiente acolhedor e de respeito mútuo. Mas ainda precisamos avançar no aspecto cultural”, ressaltou.

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Em sua fala, o diretor da Dipag, Clemens Santos, enfatizou que a discussão sobre gênero não deve ser separada da questão racial. Ele mencionou a falta de representação de mulheres negras em posições de liderança e compartilhou dados sobre a composição racial do TCU, mostrando grande desequilíbrio entre brancos e negros entre todos os cargos. “Somos um país racista e que ninguém se reconhece como tal, portanto, é preciso pensar que todos os números falam, sim, da nossa organização, que é excelente, mas pode ser ainda melhor se colocarmos o requisito gênero e raça nas nossas discussões. No Brasil, 53% da população é negra e a maioria dos indicadores sociais indicam que os negros estão na base da desigualdade social. Portanto, ler desigualdade social é falar em desigualdade racial no Brasil”, explicou.

Lançamento do filme “Quando elas se movimentam”

Na próxima terça-feira (25/3), às 18h30, o Cine Brasília será palco da exibição do documentário “Mulheres Negras no Poder”, uma produção original da TV Senado dirigida por Susanna Lira. O evento, gratuito e aberto ao público, celebra também os 10 anos do Comitê de Gênero e Raça do Senado.

A mesa de abertura contará com a participação da juíza do TJBA e personagem do documentário Antônia Faleiros da atriz e personagem do documentário Luana Xavier da cineasta e professora da UnB Edileuza Penha, da diretora-geral do Senado, Ilana Trombka, e da mediadora e coordenadora do Comitê de Gênero e Raça do Senado, Stella Maria Vaz. Durante o evento, será discutida a representatividade das mulheres negras no poder, trazendo à tona questões importantes sobre sua luta e inserção na política.

Confira abaixo o trailer do documentário

 

Serviço:

Mulheres Negras no Poder

Quando: terça-feira (25/3)

Horário: 18h30

Local: Cine Brasília

Entrada gratuita

 

 

Confira aqui as fotos do evento!

SERVIÇO

Secom – JB/va

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