Museu do Tribunal de Contas da União
Min. Marcos Vinicios Vilaça (1988-2009)
O ministro Marcos Vinicios Rodrigues Vilaça nasceu em 30 de junho de 1939, no município de Nazaré da Mata, na mata norte do estado de Pernambuco. Filho único de Antônio de Souza Vilaça e Evalda Rodrigues Vilaça tornou-se ao longo de sua vida advogado, professor, jornalista, ensaísta, poeta e um grande pensador e empreendedor da cultura brasileira. Foi ainda ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) por mais de duas décadas, membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), além de ter ocupado muitos cargos importantes na administração pública do estado de Pernambuco e do Brasil. A pujança intelectual que caracteriza sua trajetória o coloca na condição de um dos mais ilustres ministros que já passaram por essa Casa.
Marcos Vilaça realizou as primeiras etapas de sua formação no Ginásio de Limoeiro, que ficava na cidade de mesmo nome, vizinha a Nazaré da Mata. Nessa etapa foi aluno do seu próprio pai, que além de professor era um importante político da região, além de escritor e frequente colaborador com seus textos ao Jornal do Commercio de Recife. No início da década de 1950 mudou-se para Recife, quando passou a estudar no tradicional Colégio Nóbrega, fazendo o então chamado “Curso Clássico”, de forte conteúdo ligado às Letras e as Humanidades.
Em 1958, já depois de concluir seu curso no Colégio Nóbrega, deu início a sua carreira profissional realizando uma das tarefas mais nobres em seu leque de aptidões: o ensino. Marcos Vilaça tornou-se professor de História do Brasil no Ginásio de Limoeiro, colégio que possuía grande respeito na região.
Em seguida, ingressou ainda muito jovem no curso de bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Ao longo dessa etapa de sua formação, desempenhou atividades importantes na condição de estudante, entre elas a de diretor do Departamento Cultural do Diretório Acadêmico da Faculdade de Direito em que estudava.
Após tornar-se bacharel em Direito na referida faculdade em 1962, passou a cursar o mestrado em Direito da UFPE, o que lhe permitiu tornar-se professor daquela instituição já no ano de 1964. Marcos Vilaça passou a lecionar nesse ano a disciplina de Direito Internacional Público, a qual ficou sob sua responsabilidade até o ano de 1994, e entre 1967 e 1968 a de Direito Administrativo, a qual afirmou em depoimento recente ao documentário Memória Viva ter sido muito útil ao desempenho de suas funções quando se tornou ministro de TCU.
Na década de 1960, Marcos Vilaça construiu uma carreira significativa na literatura, área que o consagrou enquanto grande intelectual. Um pouco antes, em 1958, publicou Conceito de Verdade, que se tratava do discurso que pronunciou no Salão Nobre do Colégio Nóbrega em dezembro de 1957, na condição de orador da turma de concluintes do Curso Clássico. No mesmo ano, publicou A Escola e Limoeiro e em 1960 lançou as crônicas de viagem Americanas.
Em 1961, Marcos Vilaça publicou aquele que talvez tenha sido seu primeiro grande trabalho literário: Em torno da Sociologia do Caminhão, o qual recebeu o prêmio Joaquim Nabuco da Academia Pernambucana de Letras. O estudo, que esmiuçava o contexto em que estavam inseridos os atores sociais em torno do caminhão (motoristas, trabalhadores rurais, intermediários, entre outros), foi muito bem recebido e consiste num trabalho muito pertinente aos estudos de interpretação do Nordeste.
Em meio a uma atividade de produção literária que já se tornava constante, Vilaça publicou em parceria com seu dileto amigo e importante economista pernambucano Roberto Cavalcanti de Albuquerque, o livro Coronel e coronéis, trabalho que, entre grandes qualidades, trazia consigo traços da influência de Gilberto Freyre sobre os então jovens autores, os quais frequentavam sua casa e participavam das discussões travadas na Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj).
Sobre a Fundaj, é importante ressaltar a forte ligação que Vilaça possuiu com essa Casa, tendo por várias vezes sido membro do seu conselho diretor, assim como desempenhado atividades na procuradoria jurídica e na assessoria especial desse instituto.
Em 1966 tornou-se chefe da Casa Civil do estado de Pernambuco, no governo de Paulo Guerra e no início da década de 1970 foi responsável por algumas secretarias na gestão de Eraldo Gueiros Leite. Foi membro ao longo desse tempo da Aliança Renovadora Nacional (Arena), da qual chegou a ser seu 1º secretário. Posteriormente, tornou-se membro do Partido Democrático Social (PDS), assim como foi membro fundador do Partido da Frente Liberal (PFL).
Marcos Vilaça também construiu uma carreira profícua na área cultural. Ocupou vários cargos em conselhos de órgãos dessa natureza, inclusive no próprio Conselho Federal de Cultura, assim como presidiu importantes fundações, como a Funarte e a Pró-memória. À época em que o órgão mais importante dessa área era o Ministério da Educação e Cultura, exerceu durante o governo do Presidente João Baptista Figueiredo o posto de Secretário de Cultura. Cabe mencionar a dimensão dessa tarefa por ter sido Marcos Vilaça nomeado para substituir Aloísio Magalhães, um intelectual de notórios serviços prestados à área cultural no Brasil.
Na década de 1980 exerceu a presidência da Legião Brasileira de Assistência, assim como foi nomeado pelo então Presidente da República José Sarney, Secretário Particular para Assuntos Especiais.
No mesmo período, passou a fazer parte de duas das mais importantes instituições às quais pertenceu em toda sua vida pública. Primeiramente, tornou-se, em 1985, imortal da ABL, sendo o sétimo ocupante da cadeira nº 26, que havia pertencido ao também pernambucano e conterrâneo do município de Nazaré da Mata Mauro Mota.
A trajetória na ABL ficou marcada pelo período que ocupou a presidência dessa Casa, entre 2005 e 2010. As qualidades de grande administrador, as quais foram reconhecidas por Bianor Cavalcanti, diretor da Fundação Getúlio Vargas, permitiram a Marcos Vilaça realizar uma gestão singular na história da instituição criada por Machado de Assis. A desenvoltura para gerir já havia sido admirada décadas atrás por Gilberto Freyre, o qual ao vê-lo com grande competência à frente da Academia Pernambucana de Letras afirmou: “tão jovem, tão presidente”.
A segunda instituição em que ingressou nesse período foi o Tribunal de Contas da União (TCU), sendo indicado em 1988, pelo então Presidente da República José Sarney em substituição ao Ministro Thales Ramalho.
Em 1995 assumiu a Presidência dessa Corte, adotando um discurso em defesa de uma preparação do tribunal para os novos desafios que surgiriam no século XXI. O ministro Marcos Vilaça afirmava que “O Brasil não é uma obra concluída. Ao contrário, é, como diz Miró da pintura, algo igual ao vento, sempre caminhando”. Por conseguinte, investiu fortemente no desenvolvimento de áreas importantes para o TCU, como a Tecnologia da Informação e o Planejamento Estratégico, sempre no intuito de instrumentalizar o tribunal diante da dinâmica natural do país.
Ainda em sua gestão, trabalhou pela ampliação das relações internacionais do TCU, o que refletiu em vários acordos de cooperação técnica, científica e cultural que repercutiram no aumento da inserção do Brasil nos debates internacionais sobre auditoria.
O ministro Marcos Vilaça aposentou-se do TCU em 30 de junho de 2009, sendo substituído pelo também pernambucano José Múcio. Alguns meses antes recebeu diretamente das mãos do então Presidente da República Luís Inácio Lula da Silva a Medalha de Ouro do Serviço Público, uma honraria rara, concedida a quem completa 50 anos de serviço público de forma ilibada.
Atualmente, desenvolve atividades ligadas à sua trajetória intelectual e ao seu posto na ABL. É casado com Maria do Carmo Duarte Vilaça, com quem teve três filhos: Marcantonio, que tem seu nome cunhado no Espaço Cultural Marcantonio Vilaça do TCU, Rodrigo Otaviano e Taciana Cecília.