Museu do Tribunal de Contas da União
Min José Américo de Almeida (1935-1951)
O ministro José Américo de Almeida nasceu no dia 10 de janeiro de 1887, no Engenho Olhos D’Água, no município de Areia (PB). Seu pai, Inácio Augusto de Almeida, era um pujante senhor de engenho da região, e sua mãe, Josefa Leopoldina Leal, pertencia a uma família muito importante e de grande influência sobre a política local.
Sua cidade natal também era a terra do grande pintor do século XIX, Pedro Américo, o qual inspirou seus pais na escolha de seu nome como homenagem ao conterrâneo ilustre.
Realizou seus primeiros estudos no próprio Engenho Olhos D’Água, onde viveu grande parte de sua infância. Em seguida, foi morar com seu tio, o Padre Odilon Bemvindo de Almeida, na sede do município de Areia onde deu seguimento aos seus estudos. Em 1901, aos 14 anos, seu tio o enviou para o seminário, mesmo contra sua vontade. Não tardou para que José Américo se convencesse da ausência de vocação para o sacerdócio, e aos 17 anos ingressou no Liceu paraibano.
Realizou seu ensino superior na tradicional Faculdade de Direito de Recife, tornando-se bacharel em Ciências Sociais e Jurídicas ao final do ano de 1908. Logo ao se formar, foi nomeado promotor de justiça em Souza, na Paraíba. Após um ano de trabalho nessa função, retornou à capital do seu estado, quando recebeu o convite para lecionar no Liceu Paraibano em substituição ao poeta Augusto dos Anjos, que havia deixado a função em razão de um desentendimento político com o então governador João Machado. A proximidade existente entre o poeta e José Américo o fez declinar do convite.
Fixou residência no município de Guarabira, no seu estado, onde residia o seu irmão mais velho. José Américo advogou nessa localidade até que foi convidado, em 1911, por intermédio do influente político e sacerdote Valfredo Leal, para o cargo de procurador-geral do estado. No exercício da função, aprofundou seus conhecimentos em várias áreas do conhecimento com grande dedicação, sendo essa etapa fundamental para a consolidação de sua condição futura de grande intelectual.
Em 1921 publicou seu primeiro livro, Poetas da Abolição, e no ano seguinte seu segundo livro Reflexões de uma Cabra, o qual suscitou um interessante debate com outro grande intelectual da época: o folclorista, político, escritor, museólogo e intelectual ultraconservador Gustavo Barroso.
José Américo saiu da Procuradoria Geral em 1922, passando a atuar como consultor jurídico do Estado. O então “presidente” do estado, como se chamava o cargo de governador à época, Sólon Barbosa de Lucena, solicitou que fosse realizado um estudo sobre as agruras pelas quais a Paraíba passava em razão da estiagem. O trabalho foi a inspiração para a elaboração de A Paraíba e seus problemas, publicado em 1923.
Sua consagração como escritor veio em 1928, com o lançamento de A Bagaceira, que é um clássico da literatura brasileira. Essa obra é considerada o marco inicial do romance regional brasileiro e influenciou diretamente o sociólogo pernambucano Gilberto Freyre na elaboração do manifesto regionalista.
Também em 1928, o recém-eleito presidente do estado da Paraíba, João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, o convidou para assumir a Secretaria Geral do Estado.
Segundo o próprio José Américo, sua aceitação em participar do governo se deu em razão do discurso modernizado adotado pelo novo presidente da Paraíba. Sua primeira grande contribuição seria a criação de um sistema de arrecadação de impostos que incidiu diretamente sobre lideranças políticas do interior do estado, criando uma grande celeuma destes para com o governo e influenciando decisivamente a arrumação de forças que se opuseram ao longo da revolução de 1930.
José Américo teve participação decisiva nos acontecimentos que envolveram a Revolução de 1930 na Paraíba. Foi líder militar das forças que combateram os coronéis que se rebelaram, além de ter tido sua eleição para a Câmara dos Deputados não reconhecida pela Comissão de Reconhecimento de Poderes da Câmara, o que desencadeou uma forte reação de oposição ao governo e empenho no alinhamento com forças revolucionárias de outros estados.
O assassinato de João Pessoa, ocorrido em Recife, impulsionou o movimento revolucionário que nesse momento tinha José Américo como grande líder civil do movimento ao Norte do país. Com a eclosão do conflito, José Américo substituiu o presidente da Paraíba Álvaro de Carvalho nesse cargo e foi conduzido à posição de governador-geral do Norte pelo general Juarez Távora.
Com chegada de Getúlio Vargas à presidência, foi nomeado ministro da Viação e obras públicas, cargo que ocupou até 1935 quando se candidatou ao Senado pelo Estado da Paraíba e foi eleito. Em junho do mesmo ano, manifestou-se diretamente ao então Presidente da República sobre seu interesse em ausentar-se da vida política partidária e ser nomeado para o Tribunal de Contas.
Sua nomeação aconteceu em setembro do mesmo ano, em substituição ao ministro Alfredo Vilhena Valladão, que acabara de se aposentar, e permaneceu no cargo durante todo o Estado Novo. No final de 1944, retoma as atividades políticas. Em janeiro de 1947, deixa o Tribunal de Contas ao ser eleito senador por seu estado natal. No mesmo mês, foi escolhido para a presidência nacional da UDN. Em 1948, ao se desligar do partido, funda, na Paraíba, o Partido Libertador, via pela qual elege-se governador do estado em 1950.
Em 1953, José Américo deixa o governo paraibano e volta a assumir o Ministério da Viação e Obras Públicas. Em agosto de 1954, demite-se do ministério e reassume o governo da Paraíba. Em 1964, já afastado dos cargos públicos, apoia o golpe militar que depôs o presidente João Goulart e a instalação do novo período ditatorial.
Em 1967, José Américo é eleito para a Academia Brasileira de Letras. Faleceu em João Pessoa, em 1980.